Adolescência – Desafios e Oportunidades

Adolescência! Um conceito que deixa muitos pais confusos de sua real compreensão. Como lidar com as mudanças que ocorrem e ainda assim orientar os filhos sobre um período em que as transformações no corpo e no comportamento são tão repentinas?

É nesse estágio de desenvolvimento que os filhos passam a questionar o mundo, os adultos e até a si mesmos.

Nesse período de amadurecimento e da busca por uma identidade adulta, o adolescente enfrenta o desafio de elaborar o luto pelo corpo infantil que vai perdendo e a se apropriar das mudanças que esse período impõe com o crescimento. 

As mudanças no corpo, na voz, o surgimento de caracteres sexuais secundários e as atitudes de comprometimento com os estudos e o futuro proporcionam ao adolescente uma reorganização mental e cultural que dará início a uma fase de descobertas e aquisição de independência. Mas com essa fase também vem a contestação. Surge, então, a necessidade de assumirem a responsabilidade de suas próprias decisões e se tornarem autônomos rumo à conquista da identidade de jovens adultos. 

Com esses acontecimentos vem a necessidade de se autoafirmarem em suas escolhas, o que progressivamente conduzirá a transição do papel de dependência total da família para a independência.

Fernando Pessoa tem uma frase que diz: “Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é.” É um pouco disso nessa fase.

Nesse momento de transição eles desenvolvem a capacidade de formular hipóteses mais abstratas e deixam de pensar através da concretude do pensamento infantil. Com essa nova habilidade de abstração, o adolescente desenvolve mais a sua criatividade e com isso o surgimento da capacidade de poder escolher o que quer para uma vida rumo ao sucesso profissional. Mas decidir sobre a vida profissional, na adolescência, não é algo tão simples assim. Eles, de certa forma, têm apenas três anos do ensino médio para decidir o que querem ser como profissionais. E essa não é uma escolha fácil. Durante esses três anos de estudo, eles mudam de ideia sobre o que querem ser inúmeras vezes e muitos deles, quando terminam o terceiro ano, ainda não decidiram. Mas chega o momento da decisão. O vestibular! Precisam de fato ter algo em mente, o que muitas vezes, não será a sua escolha acertada, mas é o que eles têm para o momento.

Esse é o momento de mudanças bruscas. Não só de escolhas sobre o curso, mas de terem que se mudar para outras cidades, estados, e às vezes essas escolhas indicam até a mudança de país.

Como lidar com essa separação do lar acolhedor e protetor infantil?

Precisarão desenvolver a capacidade de cuidarem de si mesmos e de seu novo espaço de uma forma ou de outra. Isso requer certa maturidade emocional. Nessas situações surgem as inseguranças, os medos, as dúvidas e as incertezas. Entretanto essas emoções têm a sua importância, pois colaborarão para o desenvolvimento psicológico dos adolescentes.

Mas esse é um processo que faz parte do amadurecimento emocional de todos os adolescentes. Muitos deles sentem que precisam se aventurar fora de casa para se tornarem independentes. Cada um experimenta essa fase à sua maneira e de como esse processo lhe traz sentido e significado nessa nova fase da vida. 

Então, como os pais poderiam ajudá-los nessa fase de transição?

Esse é um momento em que eles precisam do apoio dos pais para as suas escolhas. É importante eles perceberem que seus pais confiam neles e nas escolhas que fizeram. 

Um conflito que acontece muito nessa fase é o da projeção que os pais fazem com os filhos, muitas vezes, induzindo-os em suas escolhas profissionais. Nem sempre os filhos querem seguir a mesma carreira de seus pais e é importante que eles possam escolher sem culpa ou pressão.

Outro processo difícil para os pais é aceitar e perceber que seus filhos cresceram. Aceitar que eles têm a capacidade de fazer suas escolhas, embora muitas vezes essas escolhas não sejam tão acertadas, mas eles precisam experimentar a vida no que compõe seus acertos e erros.

É importante que os pais se sintam seguros com a possibilidade dos filhos experimentarem seus novos lares e passarem essa segurança e confiança nas escolhas que ambos fizeram. Pois apoiar os filhos a experimentarem viver mais por eles mesmos, não deixa de ser uma escolha dos pais também.

Para refletir, termino com um poema de Rubem Alves “Mas é preciso escolher. Porque o tempo foge. Não há tempo para tudo. Não poderei escutar todas as músicas que desejo, não poderei ler todos os livros que desejo, não poderei abraçar todas as pessoas que desejo. É necessário aprender a arte de “abrir mão” – a fim de nos dedicarmos àquilo que é essencial.”

 

Cristiane de Lourdes Jacóia Silvestrini é Psicóloga Clínica de abordagem psicanalítica e Psicanalista. CRP: 06/118299 (psicologa@cristianesilvestrini.com.br)

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