Bebê X Vida profissional – Um momento de decisão

Minha conversa hoje é com as mães da contemporaneidade.

É visível, na sociedade atual, o espaço conquistado pela mulher no mercado de trabalho. A mulher tem investido mais nos estudos e em sua carreira e tem se destacado muito profissionalmente. Não é de hoje que a mulher vem lutando muito para que seu espaço de profissional seja cada vez mais reconhecido. E ela tem alcançado grandes resultados. Com isso vem a estabilidade financeira, o respeito pelos companheiros de trabalho e de seus parceiros de vida amorosa. E a maternidade tem esperado um pouco mais para chegar. Mas, então, chega um momento em que o coração fala mais alto e ela se rende ao desejo de ser mãe. Com a descoberta da gravidez, a mulher experimenta uma série de sentimentos e emoções que lhe despertam incertezas, felicidade, inseguranças e responsabilidades que terá dali para frente. 

Passadas as inseguranças iniciais a mulher começa a entrar em um mundo de descobertas de si mesma. Desde as mudanças corporais como seios que vão se modificando com a preparação para a amamentação, a perda de suas roupas de rotina, cansaços e sonolência como também o humor instável e muitas vezes um choro sem respostas. Por outro, lado a sensação maravilhosa que se tem quando os bebês mexem, a emoção do primeiro ultrassom, a descoberta do sexo do bebê, os preparativos para o enxoval, o carinho de todos a sua volta, enfim emoções novas a cada dia.

Até que chega o dia do nascimento! Não existe um manual de como cuidar de um bebê ou de como se comportar como mãe. As descobertas acontecerão no dia a dia e nos cuidados com a criança. E esse vínculo que vai se criando entre ambos acontece de modo muito particular do que é ser mãe. Pois nos primeiros meses a relação mamãe-bebê é de forma intuitiva e primitiva. Para entender o que acontece com a percepção do bebê nesse momento, ele ainda não se vê como um ser separado da mãe. O seio da mãe é uma extensão de si mesmo onde ele mesmo criou na sua onipotência um estágio emocional muito primitivo. E os cuidados da mãe são essenciais para esse amadurecimento do estágio emocional do bebê e da criação de vínculos entre eles.

Até que o bebê atinge um estágio um pouco mais independente, a licença maternidade já está em seus momentos finais e a mãe concebe que essa pode ser a hora de voltar às suas atividades diárias de rotina e de trabalho.

Nesse momento aparecem os conflitos, as escolhas que terá que fazer. Dependendo do desenvolvimento emocional da mãe e de sua história de vida, ela vai lidar com essa situação de maneira angustiante ou de forma mais tranquila.

Algumas podem se sentir culpadas por deixarem seus filhos, mesmo sabendo que estes estão sendo bem cuidados. Outras podem criar certa dependência emocional de estarem com seus bebês em tempo integral que não conseguem conceber a ideia de ficar longe deles. Enquanto outras podem oscilar no início, mas logo se fortalecem e se sentem mais fortes, realizadas e responsáveis pelas suas escolhas de estarem no caminho certo e de forma saudável. Isso vai depender de como cada mãe processa esse momento e não existe uma obrigatoriedade de agir, a não ser aquela a qual ela se sinta em condição naquele momento. E sim, depois de um tempo, ela pode desejar agir de forma diferente e procurar uma ajuda para aquilo que deseja mudar ou melhorar em si mesma. Donald Winnicott, psicanalista, desmistifica a concepção de uma mãe super presente ou mesmo perfeita. “Ela deve ser suficientemente boa!” diz ele. E isso já basta para começar.

Então, para as mães que desejam voltar ao trabalho se sentindo um pouco mais seguras e tranqüilas com seus bebês, lanço algumas sugestões e dicas para que esse momento de transição possa se dar de forma saudável para ambos – mamãe e infante: 

  • Procure se programar com antecedência na escolha do lugar ou das pessoas que irão cuidar de seu filho, pelo menos com uns dois meses anteriores à volta ao trabalho.
  • Independente de a escolha ser uma babá ou o berçário de uma escola, promova-lhe a experiência de poder estar com a pessoa, assim como no ambiente da escola, algumas horas por dia antes do início da ação. Importante que a mãe possa estar junto com o bebê nessa nova experiência para que ele possa se sentir seguro nessa fase que se inicia.
  • Não há necessidade de um “treino” de separação prévia com o bebê para ele se acostumar. Eles não têm essa maturidade neurológica e emocional para essa experiência. A estabilidade e o afeto da mãe é que o ajudarão a adquirir a calma e a segurança para amadurecer e suportar as suas ausências prévias.
  • Não tenha a insegurança de que eles possam gostar mais da babá ou das professoras da escola. Eles sabem quem são suas mães, pois eles têm o discernimento através do vínculo já criado inicialmente vindos do som de sua voz, de seu cheiro, de seu toque e até da forma de carregá-los.
  • Caso a escolha da mãe seja contar com a ajuda de seus pais ou dos pais de seu marido, o importante que esses possam desempenhar apenas os seus cuidados de avós para com o bebê e não de pais substitutos que podem muitas vezes confundir a criança e tirar a autoridade que cabe, de fato, aos pais em educá-los. 
  • Mesmo que o bebê tenha que utilizar a mamadeira durante o dia, devido a impossibilidade de mamar por conta do horário de trabalho da mãe, não deixe de oferecer o seio a noite. Esse vínculo com a mãe o acalmará na hora de dormir e ele terá um sono melhor e mais tranquilo.

Para finalizar digo que o mais importante não é a quantidade de tempo com o bebê e sim a qualidade nos cuidados, no carinho, na dedicação, pois nesse caso o mais nobre dos alimentos é o afeto.

 

Cristiane de Lourdes Jacóia Silvestrini é Psicóloga Clínica de abordagem psicanalítica e Psicanalista. CRP: 06/118299 (psicologa@cristianesilvestrini.com.br)

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