O Bebê e a Agressividade
Quando pensamos em bebês, com aquela imagem angelical de pureza e doçura, fica difícil associarmos a palavra agressividade. Mas ela surge como uma força instintiva que pertence aos seres humanos desde os momentos iniciais de sua concepção. A motilidade, ou seja, a movimentação muscular como manifestação de estar vivo, se expressa antes mesmo do nascimento. Está na movimentação intensa e vigorosa do bebê dentro do útero. E logo com o nascimento a criança solta o seu grito de agressividade.
Tanto a procura pelo seio com o impulso de abocanhá-lo como o choro impaciente antes de mamar podem parecer para a mãe inexperiente e aos que observam, uma demonstração de agressividade. Por hora, dependendo da vitalidade do bebê, pode acontecer da atividade da gengiva ser tão vigorosa que venha a machucar o seio.
No entanto, nesses estágios tão primários e iniciais do bebê, que ainda não está em posse de razões ou intenções, não se pode afirmar que o bebê esteja tentando machucar a mamãe, porque ele não é amadurecido emocionalmente o suficiente e a sua intenção é apenas a de saciar a sua fome.
Com o desenvolvimento, a movimentação e motilidade levam-no a agressividade. Mas uma agressividade que representa a expansão e o conhecimento de mundo.
Com o tempo o bebê passa a ter o impulso de morder, de agarrar e bater com objetos a produzir barulho, assim como se movimentar e espernear vigorosamente. Esse é o início de uma fase muito importante que é a expressão de como está experimentando e conhecendo a si mesmo e ao mundo.
Ao colocar os objetos na boca, como podemos observar em todo bebê, ele o experimenta, e explora, sua textura, sua consistência. Essas situações tornam a boca uma parte do corpo muito sensibilizada.
O bebê, então, vai experimentando a agressividade na tentativa de se diferenciar.
Podemos pensar que este é um jogo com o qual o bebê aprende sobre seu corpo, sobre seu eu, porém é mais que isso, sem esta competição ele não se mexeria, a criança precisa ser agressiva para sair do lugar, qualquer movimento da criança já é ir contra a inércia, tem a ver com a tonicidade do corpo. A postura, os tapas e socos não são apenas manifestações lúdicas de exercícios de forças, são experiências que antecipam no plano de como o corpo está funcionando.
No início, o bebê se comporta como se fosse a imagem que reflete o comportamento do outro, outra criança cai e o bebê chora, a mãe abre a boca e o bebê abre também na hora de comer, ele vai experimentando ludicamente movimentos a partir dos movimentos do outro, ele imita o outro, mas aos poucos vai se rebelando, vai fazendo movimentos diferentes. Essa experimentação provoca a unificação das imagens fragmentadas iniciais, uma organização inicial que permite ao bebê a formação de um eu.
Esta rebeldia agressiva tem a ver com intenção, reivindicação, oposição, revolução, ou seja, tudo o que representa diferença.
A agressividade não só permite que nos diferenciemos nesse primeiro momento de vida, quando ainda não há a distinção entre eu e outro, mas também que nos tornemos adultos críticos.Também deve ser considerada no âmbito social.
A criança precisa disputar seu espaço e aprender a ceder ou não, quando necessário. Criar estratégias de defesa faz parte do desenvolvimento infantil. Para que isso aconteça é preciso dar caminho para esta agressividade, mas se descontrolada, pode ser danosa. A agressividade é um elemento necessário, mas em excesso pode ser preocupante. Agressividade demais pode provocar o descontrole de um ambiente saudável.
Nunca, em nenhum momento, independente da idade de seu bebê, subestime sua capacidade de inteligência e compreensão. Ele de uma forma ou de outra sempre estará atento a toda atitude e comportamento dos pais para sentir confiança e segurança em seguir seus ensinamentos.
A agressividade é necessária, mas é preciso saber encaminhá-la a propósitos saudáveis no desenvolvimento do ser humano.
Cristiane de Lourdes Jacóia Silvestrini é Psicóloga Clínica de abordagem psicanalítica e Psicanalista. CRP: 06/118299 (psicologa@cristianesilvestrin
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